terça-feira, 19 de agosto de 2008

noites brancas, dostoiévski

in - Noites brancas, Dostoiévski


"Que recordações! Lembro-me, por exemplo, de que neste local, há justamente um ano, precisamente a esta hora, neste mesmo passeio, vagueei tão solitário e tão sombrio como hoje! E repare que nessa altura também os pensamentos eram tristes; ainda que não fosse mais feliz, sentia, apesar de tudo, que a vida era mais fácil e tranqüila, não existindo nela esta idéia negra que agora a mim se apegou; nada desses problemas de consciência, sombrios e severos remorsos, que nem de dia nem de noite me deixam descansado. E uma pessoa interroga-se: mas então onde estão os teus sonhos? E sacode a cabeça, dizendo: como os anos passam depressa!... E novamente nos interrogamos: mas o que fizeste tu dos teus anos? Onde foste enterrar o teu tempo mais precioso? Viveste verdadeiramente? Sim ou não? Repara, dizemos para nós mesmos, repara como o mundo arrefeceu. Passarão ainda mais anos e, após eles, virá a triste solidão, virá com a sua bengala a vacilante velhice e, após eles, o tédio e o desespero. O teu mundo fantástico empalidecerá; os teus sonhos morrerão, fenecerão, cairão como as folhas mortas caem das árvores... Oh, Nastenka, como será triste ficar só, completamente só, e não ter absolutamente nada a lamentar, nada de nada..., pois tudo o que se perdeu, tudo isso junto, não significa nada, é um zero estúpido e perfeito, tudo não terá passado de um sonho!"

terça-feira, 10 de junho de 2008

A última terça-feira

A garagem do hospital já estava praticamente vazia quando Carlos desceu pelo elevador com
seu habitual café e as olheiras que denotavam sem esforço algum que o mesmo já não dormia a algum tempo.

Enquanto caminhava a passos curtos em direção a seu Audi A3 ele ajeitou o rolex no pulso e checou a hora. Quinze para as cinco da manhã do dia 10 de Junho de 2008. A terça-feira mal começara e já carregava o fardo de ter sido o pior plantão da vida de Carlos. Ele havia perdido três pacientes na emergência e sentia-se pisando no juramento que havia feito há quinze anos quando se formou doutor, embora soubesse que havia feito tudo o que estivera a seu alcance, como sempre.

Cansado como nunca antes, ele deu a partida no carro e manobrava cada curva até a saída do local, enquanto seu pensamento tentava manobrar cada curva do labirinto que parece ser a mente humana. Passou ao lado da cabine de saída, onde o funcionário noturno fingindo não dormir fingiu um cumprimento, que Carlos fingiu não ver. Meia hora depois ele chegava a seu apartamento na lagoa.

Ao entrar apanhou no chão duas cartas do Banco Real destinadas à Alice, que embora houvesse o abandonado a cerca de um mês quando descobriu as traições ainda não havia indicado ao correio seu novo endereço.

Largando suas coisas no sofá, Carlos olhou para a secretária eletrônica que indicava dois novos recados que fez questão de não ouvir. O aparelho causava-lhe vergonha, pois o fazia lembrar do dia em que Alice escutou os recados de Cíntia para ele, revelando seus sucessivos adultérios. Desde então, vinha descobrindo em doses homeopáticas de remorso o quanto amava sua esposa, e a estrondosa falta que ela fazia à ele.

Carlos desabou em sua poltrona favorita enquanto ligava o rádio que estava sintonizado na Band News. O locutor proferia animado o famoso bordão da rádio: "Band News 24 horas - Porque em vinte minutos tudo pode mudar". Malditos vinte minutos, pensou Carlos.

Naquele instante lembrou-se da imagem da menina chegando ao hospital com a perna semi-amputada, horas atrás. Ele fez tudo o que pôde para salvá-la, e teve a certeza de que o teria feito se ela tivesse chegado os malditos vinte minutos antes na emergência do quinta dor.
Com uma lágrima errante a escorrer por seu rosto, Carlos pensou mais uma vez em como um fator aparentemente simples como o tempo rege os homens e tudo ao seu redor, absolutamente tudo.

Com um amargo peso em sua consciência ele se levantou e foi até o bar do apartamento, colocou dois dedos de whiskey no copo, e tomou um gole enquanto fitava o porta-retrato que outrora ostentava uma bela imagem dele e sua esposa em Milão, na lua de mel. Agora restava apenas uma rachadura no vidro e a madeira roída.

Munido de um desespero sufocante, Carlos dirigiu-se à varanda, onde os primeiros raios de luz já anunciavam a chegada de um novo dia. Ele tentou alinhar em sua mente todas as boas vibrações que um belo nascer do sol pode fornecer a uma pessoa, mas tudo parecia apenas detalhe.
Movido por algo que uns chamam de coragem e outros de covardia ele Tirou a camisa, colocou delicadamente o copo de scotch sobre uma mesa e suspirou o último segundo de desgosto que pôde.

Depois disso, sentiu apenas o frio vento que cortava seu corpo enquanto o mesmo caía, até atingir as bordas da piscina de seu condomínio, para nunca mais sentir o que quer que fosse.

domingo, 8 de junho de 2008

protocolo

catarse segundo o dicionário:
1 Purgação. 2 Purificação.

catarse segundo aristóteles:
a purificação das almas por meio da descarga emocional provocada por um drama.

catarse segundo um sábio e anônimo professor:
um assunto que é abordado em Literatura, Catarse transmite a idéia que você pode se purificar quando sofre por algo que você esteja lendo.



tornar livres pensamentos e emoções que se encontram reprimidos no inconsciente.
é mais ou menos pra isso que isso aqui vai funcionar.